
NÃO PODEMOS NOS CALAR!!!!
Ainda vivemos em uma sociedade racial e culturalmente desigual, os valores determinados por uma cultura branca- européia ainda são vistas como superiores em detrimento da desvalorização de outras matizes como a do negro, pois as características étinico-racial estão intensamente associados as condições sociais deploráveis.Este fato vem se desenvolvendo historicamente desde o tempo da colonização e escravidão, foi mantido após a abolição e, apesar de algumas conquista ainda esta presente na nossa sociedade.
Com isso percebe-se que o racismo é um processo histórico e, para entendermos essa questão é necessário destacarmos as diversas teorias que surgiram ao longo da história. Teorias essas que serviram como ideal político para justificar a submissão de povos em detrimento de outros.
Desde a antiguidade, a humanidade se preocupou em explicar as diversidades de comportamentos existentes entre os diferentes povos, essa tentativa de explicar as variedades culturais foi se transformando em meados do século XIX em uma questão racial. Assim, a noção de raça surgiu para classificar e ordenar hierarquicamente indivíduos e grupos sociais.
Dessa forma a mentalidade ocidental convive com a idéia de que os seres humanos estão divididos em raças, essa idéia surgiu para atender a uma necessidade européia de justificar seus projetos de expansão imperialista, depois para justificar a escravidão e, hoje estão presentes em muitos discursos racistas como é o caso do Coordenador do Curso de Medicina da UFBA Antonio Dantas, que para justificar o baixo rendimento nos resultados do ENADE, coloca o baiano como o povo menos inteligente em relação ao restante do país.
Dantas teve suas declarações publicadas no Jornal Folha de São Paulo na quarta-feira 30/04/2008, nessa declaração ele atribui às notas baixam no ENADE, ao baixo QI (Quociente de inteligência) dos baianos. Diz ele. “O baiano só toca berimbau porque só tem uma corda se tivesse mais [cordas], não conseguiria”. Segundo ele, a faculdade não é responsável pelos resultados ruís. “Temos um corpo docente muito qualificado com 90% dos professores mestrados ou doutorados. Além disso, temos uma boa infra-estrutura”. Diz.“ As notas se devem à inferioridade intelectual dos alunos .” Ainda complementa. “Eles são piores. As pessoas não gostam de admitir que são inferiores. Mas eu acho que admitir que somos piores e questão de humildade, só assim podemos melhora”, ele ainda ressalta, “ além do baixo QI do baianada, há ainda a preguiça de pensar ou executa qualquer tipo de atividade seja intelectual ou física! (....) O baiano tem preguiça crônica hereditária”.
Ao fazer esse discurso o professor Dantas faz uso das teorias deterministas difundidas no século XIX, no qual os seus seguidores acreditavam que determinados grupos sócias tem menor desempenho comparativamente a outro em virtude de características inatas no caso em questão a região de origem. Ou seja ao colocar o baiano como ignorante por natureza, parece defender as teorias, que no século XIX e XX que fundaram o chamado “racismo cientifico” como o caso da Eugenia que considerava que os traços culturais são pouco relevantes e o que pesa é o fundamento biológico, afirmando que a capacidade humana era função da hereditariedade e não da educação; como também parece busca referência no determinismo biológico, que afirmava, que o homem já nascia dotado de suas capacidade e, as diferenças culturais poderiam ser explicadas pela hereditariedade. Assim as crenças e os valores seriam passadas geneticamente e, o ser humano estaria predestinado a segui-los.
São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades especificas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negro; que os alemães têm mais habilidade para mecânica; que os judeus são avarento e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxuria dos portugueses. (LARAIA,1986”)
Essa afirmação sinaliza pontos em comum com a declaração do professor Dantas, o qual ao afirma que “os resultados do ENADE mostra a inferioridade dos alunos da de Medicina da UFBA com relação aos estudantes de outras faculdades do de medicina do país”. Dessa forma fica explicito a relação do determinismo biológico com o discurso do professor.
É importante ressaltar que todas essas teorias foram refutadas ao logo do tempo por ser consideradas discriminatórias e não seria mais valida nos países que queria pregar a igualdade racial. Contudo ainda e comum vermos discurso que adotem essas teorias racistas do século XIX. O caso do professor Dantas só acaba por resgatar novas discussões, que mostra que essa idéias ainda estão vivas e acabam passando despercebida dentro dos discursos do século XXI.
Diz-se haver democracia racial no Brasil, no entanto estamos cercados de racistas por todos os lados. E apesar do discurso que nega ou ameniza a presença do preconceito e da discriminação racial, não é difícil ver manifestações de racismo no dia-a-dia da sociedade brasileira. Ora escancarado como no caso do professor Dantas, ora, é silenciado como no olhar policial que põe constantemente os negros sob suspeita, de uma mesma forma adotando essas teorias racista, ao diferenciar o tratamento do negro tido como “inferior” em relação ao branco tido como “superior”. Dessa forma, pode se concluir que por mais que se tente esconder o racismo ele existe e é preciso reconhecer para que não se perca o alvo que se que atingir.
Silvana Nery